segunda-feira, 2 de agosto de 2021

 Lá vai o homem

Pelo sertão


Um rosto ardido

E os pés no chão


O sol do meio dia

E o uivar da noite


Come carne seca

Farinha e areia


Terra rachada

Terra arrasada

Nenhuma gota

Nenhuma água


Nem morto

Nem vivo

Contador de mitos

Vagueia ele 

O andarilho



Rogério Saraiva

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Uma vida sem 
arrependimentos
É uma vida sem cor

quinta-feira, 4 de março de 2021

Dona Moça

 Minha vó tinha cheiro de café na madrugada

Junto ao som da mata

Da lenha estalando

E dos passos leves no frio chão da manhã


Era o despertar dos dias

Era o adormecer das noites

E naquela rezaria

Sua voz entoava a romaria

De toda gente da roça e do sertão

De sol a sol e do dia a dia


De onde a senhora estiver

Reze por nós

Que ficamos órfãos da sua presença

Mas a sentimos todos os dias

Nas mãos calejadas do trabalho duro do sertão

E em cada suspiro triste e feliz do coração.



Rogério Saraiva


sábado, 11 de abril de 2020

Tudo muda

No te vayas en la calle
calle de la desesperación
Esperando por ti

huir del enemigo
tenía máscaras en todos
      formas

llorar por la muerte de los viejos
el tuyo también vendrá
sin aire, sin aire, sin aire

respira la gracia de la vida
gracioso y trágico
Pandemia de muerte y vida



Rogério

Pandemia

morir como poeta
vaso, vino y veneno
Tuberculosis
De la boca que sale sangre
Pandemia
coronas y celdas
matando al segundo
historial médico
mundo desgarrado


Rogério

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020


.
..
...
Vejo você em seus cabelos espalhados pela casa. Sua face estampada no Kilimanjaro. Seus pés marcados pelo chão dos meus pensamentos. Sinto seu sabor como a última uva do cacho. Sua beleza como o pôr do sol beijando o amanhecer da vida. Te amo em todos os países, em todas as esquinas. Atraquei meu barco em seu porto, descarreguei toda lida e te enchi em mim.
...
..
.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Parece que tudo está ruindo

Nossos pequenos sonhos
Nossa vontade de viver

Acordamos pensando na hora de dormir
Dormimos não querendo acordar
Os felinos são mais felizes que nós

Não sabemos o que queremos
Queremos muita coisa
Mas dizemos que não queremos nada
Como somos miseráveis

Ninguém mais sabe amar
Peça desculpas se alguém te amar
Saia correndo, você não aguenta correr
Os carros correm por você
Mas você não está mais na direção

Parece que tudo ruiu
Não somos mais crianças
Não nos sentimos adultos
Onde está o tempo?
Se foi de mãos dadas com nossa ingenuidade
Sem maldades, apenas se foi, preciso era

Mãe, estamos morrendo
Morrendo de fome
Fome do mundo
De coragem
Da Terra

Tudo está ruindo
O céu
O infinito
Acorde!

Pense
Chore
Sonhe

Angústia!
Angústia!

Vida

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

quantas estrelas cabem em seu terraço?
Sou poeta e não sobrevivo de poesia,
O que é pior que qualquer guerra,
Nuclear, Santa ou Fria.
o poeta que nunca recitou uma poesia
não escreveu, nem leu
nem chorou, nem comeu
se angustiou ou morreu
sentado
se distrai
Morreu
Um tiro
na cabeça
Três tentativas
parede
bochecha
cérebro 

Morreu

91 anos
Guerras
Sorrisos
lágrimas
Forte 
como madeira de lei
Sucumbiu 
no delírio
de minutos
numa vida de décadas

Adeus 

Nos encontraremos em sonhos
E nas sessões mediúnicas
Para o alívio da consciência
Do sofrimento da existência


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017


...
..
.
Nem a pior das batalhas tombaria um homem como você me tombou. 
Perdi a guerra e quantas lutas foram travadas por nada?
Amor, essa bomba atômica que devasta tudo em nós e deixa estéril os campos mais floridos. 
Não há mais vida, nem carne, nem ossos, nem pensamentos, nem desejos, nem cor, nem som, nem a luz, tampouco a escuridão, apenas o nada.
O nada vive agora. 
E como o nada não pode viver, o que sou agora?

quinta-feira, 17 de março de 2016

Trovejou

Há chuva em seus olhos

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Prestenção!
Prestenção minino!
Cê num tem educação não?
Óia que te dou um biliscão!
Poesia agora tem que ser engraçada.
Rebuscada só a porta do banheiro da rodoviária.


Dedicada ao amigo poeta Fernando Righi
Noites de sol
Dormem aqueles
Que se banham de lua
Onde tudo começa
Nenhum poeta começa a escrever por felicidade:
Acordou um belo dia em sua adolescência, viu os pássaros cantarem e redigiu seus primeiros versos.
A dor, a angústia, as frustrações e as paixões românticas são sua primeira força motriz.
Os primeiros passos do poeta são como uma vingança dos outros, do mundo e de si mesmo.
Ele apunhala todos em versos banais e infantis.
E ri demasiadamente.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Pela manhã
Nenhuma alegria
Só bocejos
Janelas fechadas
Inverno frio
Cobertas e pés gelados

Um coração vazio
Que se dispara no escuro
Entre dois batimentos por minuto

Lua cheia
Em noite escura
Uivar dos desejos

domingo, 21 de dezembro de 2014

Amor angu
Tem caroço nesse coração.

sábado, 22 de março de 2014

Ratos


Chove o pensamento

Ne medida em que...

Desagua o encantamento
Sem bosques, em becos
Tolhe o pensamento



Água que limpa o suor 

E o sangue...
Almas decompostas 
Entopem bueiros 

E os ratos, 
Ratos de todas as épocas
Escritores da história
Poetas rejeitados
Navegam ao inesperado
...
..
.
Rogério Saraiva 
(foto: Rogério Saraiva )

quinta-feira, 6 de março de 2014


Aqui 
Se abre
Boteco
A cada esquina
Farmácias
Pra curar 
Com morfinas
Corações
Que se encontram
Entre ervas daninhas.


Rogério Saraiva 
(foto: Rogério Saraiva )

sábado, 15 de fevereiro de 2014

O dia

Cada dia que passa
é só mais um dia que passa
pra cumprir a matemática galáctica
de uma vida que se atrasa
na passagem de uma ponte sob magmas
é só mais um dia que passa

Eles disseram, viva a vida
não explicaram que para viver
triste seria sentir, o mundo
daqueles não se encontram afim

E mais um dia se passa
os segundos contam os minutos
os minutos contam as horas
das horas, um dia, dois, três
semanas, meses, os anos...

olhos de senhora que contam histórias

Todos passarão
poucos 'passarinho'
mas todos passarão
observando de longe
os falhos e os galhos
de todos os caminhos

E a cada dia que passa
é mais uma dor, amor, dor
calor, fulgor, suor, dor, dor

E passou, e levou, e correu
e chorou, e amou, e acreditou
desacreditou, morreu, viveu
sofreu, cresceu, doeu, e valeu
e das cinzas, sempre, renasceu.


Rogério Saraiva


segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Visitante



Todas as madrugadas aquele velho morcego me olha pela janela. Encara meus sonhos cheio de desejos.




Rogério Saraiva

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

A vida é uma poeira nos olhos do Universo
.....
...
.








Rogério Saraiva 
(foto: Rogério Saraiva )

 

quinta-feira, 21 de março de 2013

Marginal

Um cara chegou com um revólver calibre .38 e apontou pra cabeça do playboy.

- Pode levar tudo, toma minha carteira.

- Me passa seu caderno e uma caneta, babaca.


E aí nasceu a poesia marginal.






Rogério Saraiva 
(foto: Rogério Saraiva )

domingo, 17 de março de 2013

.
.
.
.
.

Poesia é a palavra magmática fundida debaixo da superfície dos sonhos que, quando expelida, dá origem a vida.

.
.





Rogério Saraiva 
(foto: Rogério Saraiva ) 

quarta-feira, 6 de março de 2013

No absurdo

As aranhas dormem?
Em que estado kafkaniano 
Eu me encontro nelas?
Paradas, simplesmente paradas
Em meu teto onde os neurônios
São teias desertas sem moscas

As aranhas dormem?
Quando dormem?
O dia ou a noite, tanto faz pra elas
40 mil espécies unidas num...
Gregor Samsa

Se as aranhas dormem,
Se o teto é aconchegante,
Se a noite é a falta de luz,
Quem somos nós diante
O absurdo do mundo?




Rogério Saraiva 

sábado, 5 de janeiro de 2013


Aqueles versos de amor são mais harmoniosos numa lata de lixo
Seu luxo, seu nicho, seu vago instinto, seu vaso pensamento
Jamais encontrará asas na fogueira da liberdade
Ficarás nas sombras do voo que não alçou
O cigarro acende, a brasa brilha entre os dedos convidativos
E a noite é sua fiel e única companheira.





Rogério Saraiva 
(foto: Rogério Saraiva ) 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Insone


Madrugada insone
Nenhuma poesia escreverá
O sentimento que bate e rebate
No peito de um poeta

Reescrevem o passado
Não existe mais lápis
Nem caneta, nem giz

Descrevem o presente
Sobrevivem do futuro

Madrugada insone
Tantas vezes descritas
Perdidas num quarto
De um vazio preenchido

Cabides balançam
Roupas a serem vestidas
Nada é mais estranho
Tudo é permissivo
Numa noite insone


Rogério Saraiva 
(foto: Rogério Saraiva )

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Quem é você?

- Quem é você? Fale sobre você. Suas qualificações. Seus defeitos.

Perguntas determinadas exigem respostas falsas. Perguntas determinadas exigem respostas forçadas de um sonho não vivido. Muitas senhas para preencher questionários de um sorriso oco.

[Preencha em 1000 caracteres]

Como se o infinito coubesse numa caixa de diálogo. Quero gritar palavrões e explodir corações. Falar meu dialeto confuso parecendo estar certo. Todo Zé Ninguém fala com a prepotência de estar correto.

Matematicamente imperfeito e asmático. Biologicamente suspeito e complicado. Quimicamente pensativo e observador. Geograficamente perdido e situado. Historicamente desconhecido e esbravejado. Poeticamente sem destino traçado.



Rogério Saraiva
(foto: Rogério Saraiva )

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Caos Nosso

A turbulência para o choque fatídico e certeiro. O caos que se finda e não se finda. Um ser não retilíneo, matematicamente imperfeito. O fim que se aproxima do começo.






Rogério Saraiva
(foto: Rogério Saraiva )

domingo, 17 de junho de 2012

Contradições (textinho bobo)






Rogério Saraiva
(foto: Rogério Saraiva )

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Ecoa

Tarde sombria de um outono chuvoso. Um som ecoa as lágrimas de cristais ao se chocar em chãos de concreto. Não há mais terra, não há mais terra, apenas concreto e água.
.
.
.
A se ler escutando Meiko Kaji




Rogério Saraiva
(Música: Meijo Kaki - Jeans Blues )

domingo, 6 de maio de 2012

O inverno em mim

Meu coração já não há espaço. Foi dominado pelo inverno congelante de histórias passadas. Quem sabe, um dia, a chegada de um verão incerto derreta o iceberg em meu peito.











Rogério Saraiva
(foto: Rogério Saraiva )

sexta-feira, 2 de março de 2012

Coração de Pedra

Meu coração é uma pedra escavada num oceano de possibilidades.
.







Rogério Saraiva
(foto: Rogério Saraiva - Varadero,Cuba)

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Inverno

Dos meus dias, das minhas noites, uma valsa trágica a suspirar vida. Sem trapaças, algumas traças, nem banquete, nem taças. O Rei conquistou um trono, ceifou sonhos, se perdeu em seu vinho. Homens lutaram pela sua honra e desonra. Nada mais resta que o uivar dos lobos a cantar os mistérios do longo inverno.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Sedimento


Minha desilusão ilusória
faz de mim metade amor,
metade dor - conflito sereno
da filosofia categórica
do meu plasma sentimental

Por ti que tantas batalhas lutei
internas, externas, tanto faz
nada fez, apenas vi o que me compraz,
talvez

Mistérios do meio dia,
lavo o rosto com água fria,
pessoas correndo
homens trabalhando sem tempo para sonhar

Eu aqui com meus pensamentos
de aluvião - desilusão pós tempestade,
sedimento do que carreguei,
nada faz, tanto fez.



Rogério Saraiva

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

.
..
...
Sempre queremos cuidar da vida dos outros, mas nunca nos oferecemos para cuidar do seu jardim.




Rogério Saraiva
(foto: Akira Kurosowa, the dreams)

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Arqueólogo

.
.
.
Continuo a procura do ouro perdido. Ao escavar, encontro mais uma múmia que muito se parece comigo. Eis que procuramos algo e encontramos outro. Do verbo procurar ao encontrar, uma grande jornada onde muitas vezes não se acha aquilo que se deseja. Eis o arqueólogo da vida, um poeta solitário reescrevendo páginas pra se encontrar no mundo. No fim, continuo sendo um soldado caminhando em suas dúvidas e certezas com armaduras e canhões.
.
.
.



Rogério Saraiva

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Alguém e alguém

.
.
.
Um minuto de sossego, partida de futebol de botão, melhor de três, agora só você e eu, quero um pouco menos do mundo e mais de mim, ou vice-versa, tanto faz, agora só você e eu neste momento, há um minuto da vida, três vezes campeão, três vezes perdedor, agora não importa mais, vamos viver para sempre há um passo do universo.
.
.
.


Rogério Saraiva

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Sem título

Dos meus pensamentos passados apenas a existência
Dos futuros, nenhuma desistência
Não errar no acerto, nem acertar no erro
Sem perder a nau da renuncia em mim mesmo
A estrada há duas direções
Seguir em frente em qual direção?
Não sou míssil teleguiado pra saber minha missão
Bússola da vida do caminho da volta
Do destino da ida
No final todos querem apenas
A metade da fruta da Eva intrometida.




Rogério Saraiva

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Tão horizonte


Conheço todas as suas faces

Vulnerável que sou

Procuro todas as balas perdidas

Da cidade


Ao encontro do inesperado

Que é tão esperado

Pelas velhas tortas palavras

Anunciadas em letras grandes

Em luzes que acendem

Se apagam repentinamente

Pelo blackout teatral da vida


Da forma procuro o todo

Do todo procuro à calma

Contornando tuas curvas bucólicas

Desenhadas pelo arquiteto ateu

Que mais representa Deus em tuas obras


Teu horizonte em mim

Não encontra fim que separa

Os sonhos da realidade.



*poesia dedicada à cidade de Belo Horizonte.

Rogério Saraiva




sábado, 13 de agosto de 2011

Das casualidades da vida, descobri que as causas são os efeitos, os casos são os feitos. Ao acaso de um "causo" da vida, da vida irmã da morte, do renascer o oposto das sombras. Pensar o sentimento, sentir o pensamento. Águas passadas que moveram os moinhos, se tornaram rios, banharam sonhos e se tornaram oceanos. Cortejar os passos, olhar para o céu e ver o infinito - nada mais que o nada mergulhado em si mesmo.




Rogério Saraiva


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Pão meu


Tristeza minha
de cada dia
Dai-me senhor
o florescer de
um novo dia.

A poesia que nunca nasce
Transborda nas frestas
do lençol freático dos
meus pensamentos.

A poesia que nunca mergulha
Se debate - se afoga

O poeta morre por um segundo
pra entrar na eternidade.



Rogério Saraiva

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Deserto


no deserto dos meus sonhos
a olhar as estrelas distantes

pensamentos

poeira no vento, ar quente nos olhos
suor na pele, barba queimada

a espera, a procura

passos longos, desejos longos
fadiga dos músculos, lábios secos

amor, amar

oasis, água fresca
no fim, uma miragem.


Rogério Saraiva

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Olhos de Soldado



.
.

O sangue em meus olhos demonstram quem sou
A face revestida de um suor sujo de cana queimada
E as mãos calejadas pela foice da vida

Na noite trêmula de meus pensamentos, oro
Oro pela solidão do ar que respiro
E a cada suspiro, um infinito

As cicatrizes de feridas passadas
Dão lugar para as novas chagas que parecem não curar
Haverá cura para um coração isolado na face de um soldado?

.
.


Rogério Saraiva

(foto: Ernest Descals)

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

= Sem título =


Dorme! Dorme!


Eis aqui a revolução dos incompetentes
Destrói aniquila
as partes
sensíveis
de minha alma
enclausurada neste corpo

esses
pensamentos
vespas apocritas
nas idas
e vindas de
homens
de todas os lugares

o chão não é terra
e as paredes não são concreto
do suor
laborioso daqueles desejos
na encruzilhada
do fim


incerto



Rogério Saraiva

(foto: Eugénia - Maori Satori)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Forasteiro


meus sonhos são presságios de outros mundos
que caminhei e que ainda hei de caminhar
nas vitórias e derrotas em mãos adestradas
pela batalha que é viver, amar e não morrer

a morte é uma idéia e como todo ideal
encontra nos dedos a facilidade da jóia mais rara
e mais fácil de ser encontrada, amor que para...

nos bocejos das velhas senhoras bucólicas
onde seus rostos enrugados teciam um leve sorriso
fechado pela vergonhosa felicidade de seus lábios
enaltecidos pela gordura da carne comida e de suas
dentaduras insensatas que insistiam em sair do lugar

nas paredes histórias, estórias e mais histórias
de um mundo tão pequeno, mas grande e tão vivido
bambu verde estalando nas brasas em meios mitos
distorcidos contados pela veracidade daqueles
velhos mais verdadeiros que poderiam existir

ao canto dos pássaros viajantes um homem sorriu
um barco velejou e o forasteiro seguiu



Rogério Saraiva

(foto: Rogério Saraiva)

sábado, 30 de outubro de 2010

Desmundo

.
.
.


É como caminhar sem perceber o rumo que te leva a engolir o mar. É o sentir de que a cada instante
tudo se afoga. A cada momento, um momento último, desnudo de meus desejos e pensamentos que
se perderam a tantas gotas d'água reunidas para acalentar tantos sonhos dilacerados. O desmundo
daquilo que não sei foi, um suspiro do universo e um desejo intenso de apenas andar pelo mar.

.
.
.

Rogério Saraiva


sexta-feira, 10 de setembro de 2010

e o começo, e o fim?




...e os lábios
amanteigados
com o leve odor
de café colhido
por mãos calejadas
entre os dedos
sonhos a se...



Rogério Saraiva

(foto: Grabiella Barros)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

O pássaro e o ancião


Perguntaram para Davi, o ancião, a fim de lhe zombar e agaranhar informações:

- Ancião, o que há após àquela montanha?

Davi, continuando o seu trabalho manual de camponês, sem fitar os soldados
que ali se encontravam, respondeu:

- Tem armas, cavalos, poder e não consegues saber? O que há após aquela
montanha não é nada que os olhos de um pássaro já não tenham visto.

Os soldados, não entendendo as sábias palavras do velho ancião, retrucaram:

- Oras, velho! Não dê meias palavras, se não o sabes o que há após aquela
montanha, apenas diga, não o sei. E se sabes, diga-nos, pois somos guerreiros
e guerreiros necessitam lutar.

Davi, sem se desfazer de seus afazeres, sorriu e exclamou:

- Vocês são fortes, talvez os melhores guerreiros de todo o mundo. Mas
se não sabes o que há depois de um amontoado de terra com todas as vitórias
já conquistadas, como poderei eu, um velho de aldeia ser mais preciso
de tão nobres homens?

- Soldados, vamos embora, este velho não sabe de nada, estamos perdendo tempo aqui.

Após dizer isso, o mais nobre de todos os guerreiros se reiterou daquele local. Após
um instante, um jovem soldado, muito imaturo aparentemente por sua fisionomia
e possível ingenuidade, chegou ao velho Davi e disse:

- Conheço-te, mas não sei de qual povoado. Sua voz, sua barba e o jeito de nos falar...
Diga-me ancião, o que nos espera após a montanha?

Davi, sorrindo e parando de trabalhar em seu moinho de água, respondeu:

- Jovem, nos conhecemos sim e tu vais lembrar enquanto tiver subindo essa montanha. Tenha
olhos de pássaros e verás que após ela, os que se dizem fortes vão enfraquecer e os fracos
que conseguirão vencer a árdua subida que estás à frente, serão fortes de espírito. Meu jovem,
conheça os mistérios de si mesmo e desvendará o que há após todas as montanhas do mundo.

O jovem, abrindo um sorriso que apenas os jovens possuem, entendeu que a verdadeira batalha seria travada nas montanhas que envolvem o seu coração.




Rogério Saraiva

quarta-feira, 17 de março de 2010

Da série: Hai Caqui - bússola


.
.
eu te oriento

tu me orientas
ele oriental
.
.



Rogério Saraiva

(foto: rogério saraiva)

domingo, 8 de novembro de 2009

Versos de Falópio - O homem do domingo


Muito contente, aceitei o convite de publicar no mais que famoso blog "Versos de Falópio".
Entre grandes escritoras, que possuo muita admiração, deixo minha pequena participação dentre do que há de mais poético nos dias de hoje.
Estar ao lado dessas mulheres, sem falsa modéstia, não é pra qualquer um.


a poesia:


Canto.Merovíngio.

Nessa jornada
por este caos
guerra no Iraque
guerrilha na Colômbia
helicópteros caindo

e eu nem aí

para o bloqueio
espacial promovido
pelos E.T.s
parentes próximos
daquele lá dos
sargentos nervosos
de varginha

quem sabe ali

estou mais
preocupado
com a fruta doce
da sua boca
da música
cambaleante
de seu sorriso

o doce mel
de sua saliva
do romance
de seus olhos
um facto
exonerante
para aqueles
pensamentos
maltrantes em
final de noite

aqui

enquanto isso
neruda tira
perde as botas
ao saber de
sua existência
mas eu
eu já estou
descalço a ti





o blog
www.versosdefalopio.blogspot.com

a poesia
www.versosdefalopio.blogspot.com/2009/11/entre-elas-rogerio-saraiva.html

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Da série: Hai Caqui - Primavera


.
.

Nunca verão
Inverno de amor
Sem outono desilusão

.

.



Rogério Saraiva

(foto: Akira Kurosowa, the dreams)

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Adália, sátira a Alphonsus Guimaraens

Quando Adália enlouqueceu
Pôs-se na laje a sonhar...
Viu uma nuvem no céu
Viu outra no mar


No sonho em que se meteu
Banhou-se toda a se sujar
Queria descer do céu
Andar sob o mar...


E na loucura sua
Na laje pôs-se a berrar
Estava perto de Deus
E tão longe do mar...


As asas que Deus lhe deu
Arrancou a ufanar...
Sua alma caiu do céu,
Com nadadeiras para nadar.




Rogério Saraiva

sábado, 5 de setembro de 2009

Os Maricas Federico Lorca! Os Maricas!


Poesia é a extensão do poeta; às vezes se fala pouco,
outras se fala muito, de loucuras, romances, dores, alegrias, lutas.
Apesar disso, nunca pretendi falar diretamente de mim,
autor desse surreal matemático blog. Alguém que me conhece
poderia dizer "mesmo não fumando, acenda um cigarro e fume",
mas não, danço com um sorriso no rosto em cima da sepultura da felicidade,
pois a tristeza que o mundo sente, não terá mais conflitos proeminentes.
Lembro-me dos escritos daqueles poetas, das farsas e fossas;
Das verdades condicionais da religião que foi vomitada em mim;
De como somos estuprados todos os dias.
Somos todos maricas Walt Whitman, todos maricas!
No Carnaval fora de época na Sibéria.
Maricas mergulhados na liberdade de sua própria prisão.
Somos órbitas bêbadas indo embora pra casa!
O poeta não é nada mais que a extensão de sua poesia.





Rogério Saraiva
imagem: Antônio Guijarro Moraes

quinta-feira, 9 de julho de 2009

hfpgc

Paraísos se
transformam
em ti
Sorriso alelo
do composto
químico
da geometria
que começa ali
Aqui espero
no descompasso
de ruas e
avenidas becos
e saídas
Todas levam
alguma coisa
que não está
aqui quem
sabe aí
Ninguém sabe
todos sabem
muitos medos
eu me encon-
tro em ti.



Rogério Saraiva

segunda-feira, 6 de julho de 2009

cvcbpgc

esse jeito moleca

de menina doce

verão do pecado

brisa forte do

mar do frio

em noite estrela-

da. Mata-me,

com este sorriso

belo velho e

o novo que me

deixa envergonhado.




Rogério Saraiva

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Entrevista ao blog "Born To Lose"



Meus amigos,


tenho o prazer de lhes enviar o link do blog "Born To Lose" de Carlos Inácio. Mestre em Filosofia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), é um estudioso da sociedade e da arte. Além de contePOrrâneo, começou sua vida artística em Ponte Nova. Hoje está ao mundo, fazendo de seu blog um interlocutor a isso. Tive o orgulho de ser entrevistado por tal pessoa, além de grande admiração, o blog tem ótima qualidade. Deixo a vocês o link do "Born To Lose" com minha entrevista.

http://krlim.blogspot.com/2009/06/serie-entre-vistas-com-rogerio-saraiva_15.html

terça-feira, 26 de maio de 2009

Piscar Sapiens



Não compensa
trabalhar todos

os dias
se para isso
além do corpo
vende-se à alma

Alma é um corpo solitário
na imansidão do
inconsciente

onipresente

Um piscar de olhos
e temos 100 anos de vida

E quando lhe tomam,
arrancam um olhar
sua liberdade
foi roubada
e
não é fácil

resgatar

Sapiens demens
demens
Duas vezes
sábios
Duas vezes
dementes



Rogério Saraiva


segunda-feira, 13 de abril de 2009

Censura


Censurada
Censuralado
Censuramada
Almacalada

quinta-feira, 19 de março de 2009

Meus queridos amigos, poetas, filosofos, músicos, jornalistas, artistas, leitores, blogueiros de plantão, vou postar alguns dos blogs a qual estou lendo e admirando ultimamente. Não deixem de acessar!

Born to Lose - Carlos Inácio/Mestre em filosofia pela UFBA
http://krlim.blogspot.com/
.
Alta Intimidade - Samantha Abreu
http://samanthaabreu.blogspot.com/
.
Enten katsubatsu - Cássio Amaral
http://cassioamaral.blogspot.com/
.
Dany Morreale - Minha Alma
http://danymorreale.blogspot.com/
.
EraOdito - Marcelino Freire
http://eraodito.blogspot.com/
.
Leminskata - Estrela Leminski
http://leminiskata.blogspot.com/
.
Olhar Vira-Lara - Nelson GNZ
http://gnzviralata.blogspot.com/
.
.
.
.
Pulem nessa orgia literária!